Sobreviví e me surpreendi – voando Recife-Maceió

Ontem viví uma experiência aérea peculiar.
Saí de Recife – da seleção de avaliadores do Cultura Viva – para Maceió -para participar do Festival Aldeia Sesc/AL.
Eu havia pedido que o Sesc conseguisse uma pasagem para depois das 21h por causa dos horários de término em Recife. Então eles conseguiram a empresa aérea NoAR. Não conhecia a empresa e fiquei curioso em saber como seria o voo.
Ao ser atendido no guichê por uma simpática funcionária, relaxei um pouco com o seu bom atendimento. Após conferir meus dados e pesar minha mala, ela perguntou se eu sabia da política de bagagens deles – só permitem 10kg e 1 mala. Eu fiquei perplexo. Com tão pouco peso, seria esse o principal ganha-pao da empresa? Tirei alguns livros da mala e tudo se acertou. Depois perguntei o que eles serviam a bordo. Ela perguntou se era a primeira vez que eu voava NoAr, no que respondi prontamente que sim, ela deu um sorrisinho daqueles: “Nao sabe o que te espera, né?” Ela me informou que não tinham comissário de bordo, nem…banheiro. Vejam vocês… quis entrar em pânico, mas disfarcei bem e retribui o sorriso.
Desci para a área R1 de embarque. No caminho encontrei os colegas de avaliação do prêmio que vieram do Ceará:Piancó, Sabadi e Vanéssia. Contei-lhes do ocorrido e que estariam me encaminhando para minha aventura. Eles riram muito e pediram que eu contasse depois a minha jornada, por isso aqui escrevo.
Quando fomos embarcar, a mesma simpática senhorita nos aguardava (eu e mais 8 passageiros – o que me deixou um pouco mais tranquilo, não seria o único naquela roubada).
Andamos até a aeronave que era, na minha visão de leigo da aeronáutica, um bimotor, com hélices aparentes e tudo. Entrei e ví que só cabiam umas 15 pessoas. Realmente a política de bagagem deles é até generosa.
Sentei e atei o cinto – que era bem parecido com os cintos de banco traseiro de carro. Se fosse cristão, aquele seria o momento para rezar. No entanto fui ler os informativos de bordo, para continuar disfarçando meu nervosismo. Um folheto mostrava instruções de pouso de emergência, onde eu deveria ficar com a cabeça entre os joelhos, mas como? Eu não conseguia nem encaixar meus joelhos entre o acento e o encosto do banco da frente.

Não havia regulagem da poltrona, nem braços, muito menos badeja (pra quê, né?)

As turbinas foram testadas e os pilotos (sim, eram dois, ainda bem, reduz a estatística, vai que um tem parada cardíaca) começaram o procedimento de decolagem. Muito barulho, um certo chacoalhar e eu quase me converti ao cristianismo nessa hora, no entanto imaginei que deus não atenderia um cristão desesperado de ultima instância. Segurei-me na poltrona (no assento) e …e… eu voeei.

Sim, pela primeira vez na vida, tive realmente a sensação de voar. Muito pouco havia entre eu e a paisagem aérea. Vi recife à noite, de cima. Boa Viagem me desejando sorte e surpreendi-me: tive o voo mais prazeroso de todos. Uma viagem tranquila com pequenos balancinhos, mas quase nem sentimos. A maior parte do tempo, devido à altura que estávamos, podíamos ver as cidades e o mar por onde sobrevoávamos. Realmente voeei.

E assim, ao pousar são e salvo, o piloto, gentilmente agradeceu em nome da empresa aérea e disse que eles desejavam continuar superando nossas expectativas em voos futuros. Realmente, superou.  Mais um caso de preconceito desfeito.

Recomendo e não estou ganhando nenhum tostão com isso, mas o prazer de voar já me pagou.

Sobre henriquefontes

sou mais do que tenho. Difícil missão essa, eu sei, mas hoje acho que me encontro nessa perspectiva: a de ser e não ter. Venho aprendendo que esta tarefa é realmente exaustiva, uma vez que praticamente 100% das relações do mundo envolvem dinheiro e logo ligamos o encontro dos seres ao encontro dos "teres." Claro que há possibilidades de fuga, de mudança e real encontro com nossa humanidade, mas isso dá mais trabalho que um dia de labor.
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20 respostas a Sobreviví e me surpreendi – voando Recife-Maceió

  1. Rodrigo Silbat diz:

    Eu ri!

    = )

  2. Clotilde Tavares diz:

    Bem, querido, eu que sou mais “voadeira” do que vc já viajei muito assim, e realmente é muito mais legal do que nesses aviões airbus que a gente nem parece que está voando. É a mesma diferença de andar num desses navios enormes de cruzeiro e andar num iate. Viajei de bandeirantes – talvez seja esse o avião que vc voou, que tem 16 ou 18 lugares, não lembro. Viajei de Fokker, viajei num monte de coisa que sobe do chão – menos ultra-leve, o resto já fui. Eu gosto de voar.

  3. Rafael Ary diz:

    Que aventura, enquanto você começava a descrever, tive um frio na espinha. Que bom que tudo deu certo. Abraço.

  4. Renato Medeiros diz:

    Nossa, que impressionante! O.O

    Adorei seu relato. Não sabia que existiam voos tão simples REC -MZC

    Eu estava esperando um final trágico, de péssima viagem, mas que bom que a situação foi revertida. Espero que goste da Aldeia SESC Guerreiro das Alagoas e de Maceió, claro.

  5. vanessia gomes diz:

    rsrsrsr
    isso é que é viver uma aventura urbana.
    me senti voando também.
    bjs

  6. James diz:

    So good, I had to translate it for Gab. I lived the fear bit with you, but not entirely convinced about the mid-air conversion to joy. I’d still be bricking it.

    • henriquefontes diz:

      Hehehe, great you read it. I was terrified, but after a while felt great really. I reccomend it. Who knows when you are here in Brazil we try…
      miss you all

  7. niltonresende diz:

    hauhaua.

    muito massa!

  8. Nani diz:

    Ai que delicia….seu relato a forma gostosa como vc escreve, espero ver outras coisas tuas. A foto de Recife a noite é de sua autoria? Está maravilhosa. Espero te encontrar por ai, de preferencia com os pés bem fincados no chão. Bjão, te adoro.

    • henriquefontes diz:

      Oh, Nani brigadao. Sim a foto é minha feita de dentro do voo. É tudo verdade ali. hehe. To empolgado. Devo continuar sim escrevendo. Beijo e apareça.

  9. Elianne diz:

    Descobri vc aqui e adorei o seu relato. Tb acho q voar perto do solo é voar mesmo- já fiz isso-inclusive de helicóptero sobre o mar- via-se os peixes- emocionante!
    Abs, Elianne-Laura_Diz

  10. FFF diz:

    Com o aumento dos voos regionais, muitos de nós em breve voarão numa “NoAr” da vida. Peguei um voo desses, só que da Trip, entre Porto Velho e Ji-Paraná. Muito tranquilo também! Talvez depois de uns 10 desses o medo vá embora e fique só o prazer de voar.

  11. Julio Cesar diz:

    Julio Cesar.
    Fiquei muito preucupado com esses comentariso sobre o peso da bagagens
    entrei em contato com a Gol e eles falaram que como eu vou voar pela Gol
    a Empresa Noar considera a minha gabagen em 23kl. fiquei muito aliviado
    pois estou saindo do Rio de Janeiro e so aminha mala pesa 5kl.rsrsrsrrs.

  12. Wilson diz:

    Lamentável que o voô Recife-Natal de 13/07/2011 não tenha tido a mesma “sorte” que o seu.

  13. Taciana diz:

    Infelizmente,os passageiros do vôo 4896 da Noar não tiveram a mesma sorte sua!Muita coisa deixou a desejar e…o avião caiu matando todas as 16 pessoas!
    Sou mãe de uma das vítimas.

    • henriquefontes diz:

      Taciana,

      Sinto muito. Fiquei chocado quando vi a matéria pois foi exatamente a mesma aeronave que eu havia voado antes. Este post é mais antigo que o acidente. Mais uma vez reitero meus sentimentos por sua perda.

      Sinceramente
      Henrique

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