Ja to com SAUDADE, JUCA

Carta de despedida de Juca Ferreira
por Juca Ferreira
enviada via e-mail

Despeço-me do Ministério da Cultura com a certeza do dever cumprido. Aliás, fomos além do dever e das obrigações. Nos dedicamos de corpo e alma. Mas não me iludo, sei que muito ainda se poderia fazer e que muito precisa ser feito pela cultura de nosso país. Por isto não me considero plenamente satisfeito, mas me considero realizado.

Demos os primeiros passos, passos largos, mas ainda os primeiros passos. Creio que posso dizer que estivemos à altura da grandeza histórica do governo Lula: tratando as coisas públicas com o máximo respeito, democratizando as políticas culturais, republicanizando nossas ações e responsabilizando o Estado com os direitos culturais dos brasileiros e com a diversidade cultural do país. Buscamos nos relacionar com todo o corpo simbólico da nação, sem privilégios nem discriminações. Nos relacionamos positivamente com todos os governos municipais e estaduais, independente da coloração política do dirigente e nunca perguntamos a nenhum artista nem produtor cultural em quem ele votava.

Contribuímos para que a cultura fosse incorporada ao projeto de desenvolvimento. A importância que a cultura adquiriu no governo Lula significa que não basta aumentar o poder aquisitivo dos brasileiros. É preciso muitas outras coisas, tais como ambiente saudável, educação de qualidade e acesso pleno à cultura.

A cultura em nosso país, na gestão do governo Lula, passou definitivamente a ser tratada como primeira necessidade de todos, tão importante quanto comida, habitação, saúde etc… Esta foi uma grande vitória. Talvez a maior de todas. Colocamos a cultura no patamar superior das políticas públicas no Brasil. Disto eu tenho certeza. E fomos além. Federalizamos, democratizamos e descentralizamos as ações do Ministério da Cultura. Primamos por um Estado democrático, republicano e responsável com o desenvolvimento cultural do país.

Estou convencido de que nada disto teria sido possível se não representássemos a vontade de uma grande maioria. Esta grande maioria que deu legitimidade ao convite feito pelo presidente Lula para que Gilberto Gil ocupasse a pasta da Cultura. A quem agradeço o convite para a seu lado caminhar boa parte desta jornada que me levou a ser ministro.

Agradeço, muito especialmente, ao presidente Lula a confiança que em mim foi depositada. A todo seu apoio à nossa gestão. Sem a sua compreensão quanto ao papel estratégico que a cultura ocupa para um projeto de nação, dificilmente teríamos chegado onde chegamos.

Despeço-me agradecendo também ao apoio recebido de tantos artistas, produtores culturais, investidores, profissionais e cidadãos. A legitimidade das políticas que implantamos se respalda em uma enorme rede mobilizada por este Ministério, de Norte a Sul deste país. Consolidamos um novo patamar de participação e inclusão na formulação e construção de políticas públicas para a cultura.

Quero também agradecer ao apoio recebido de todos os servidores do Ministério da Cultura, porque sem eles não teríamos sido bem sucedidos.

Por fim, despeço-me desejando muito sucesso à presidente eleita e a nova ministra, me dispondo a colaborar em tudo o que estiver ao meu alcance para que conquistemos o Brasil que queremos, um Brasil de todos.

Brasília, 31 de dezembro de 2010

Juca Ferreira

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Soledad e sua cozinha

Fiquei hoje hipnotizado pela poesia e leveza de uma atriz pequenina no tamanho e enorme em beleza e generosidade.

Coco Maldonado compartilhou conosco (eu, Jorge, Pedro e Mana) a história de Soledad e de sua vó Alegria.  Esta atriz que mora no “país da linha imaginária” , ja vem contando essa história pelos palcos da America do Sul, sobretudo em São Paulo, Maceió e Salvador, há alguns anos. Ela sempre trouxe a platéia mais próxima dela,  mas esta apresentação de domingo, 29 de agosto,  11 da manhã ela foi além da proximidade, na busca da intimidade.

O lugar que ela encontrou foi a casa das pessoas. Na casa, procurou o lugar mais íntimo…se enganou quem pensou no quarto, ou no banheiro. A intimidade da casa, sabem os mais velhos, mora na cozinha.

Ali durante uma hora, que passou como uma refeição saborosa, assisti a uma história de metáforas leves e poesia ainda mais sutil, sobre uma mulher chamada solidão, seus segredos e descobertas.

A cozinha era realmente o lugar para toda aquela intimidade ser contada. Nenhum outro lugar nos apresentaria tão bem a Avó Alegria, personagem que observa e aconselha Soledad durante sua jornada de descobertas. As avós, não sei se vocês notaram, têm uma relação com a cozinha que é algo de misterioso e encantado.

Quem não tem uma lembrança de vó na cozinha? Do cheiro de alguma comida no fogo e de um segredo que estava no forno pra ser revelado quentinho e pronto pra derreter na boca, minutos depois.

Ali, naquele ambiente de azulejos e pias, muitas meninas compartilham suas dúvidas e aprendem o sabor e os segredos de serem as únicas capazes de prover a vida humana. O cozinhar é apenas uma desculpa, um instrumento, uma tarefa que acompanha o enorme ensinamento passado de geração em geração. O cuidado é praticado e a sabedoria para além da função doméstica é cultvada.

Aprendi e senti muito com Soledad, na manhã deste último domingo, mas o principal ensinamento veio da Avó Alegria, que quando perguntada qual seria o Ponto do doce de Vênus – aquele que nos garante companhia amorosa para o resto da vida – ela prontamente respondeu:

Muito fácil menina, o ponto do doce de vênus é o instante antes dele desandar.

Assim, sai daquela cozinha, com o desejo de praticar o cozimento do doce de vênus.

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Sobreviví e me surpreendi – voando Recife-Maceió

Ontem viví uma experiência aérea peculiar.
Saí de Recife – da seleção de avaliadores do Cultura Viva – para Maceió -para participar do Festival Aldeia Sesc/AL.
Eu havia pedido que o Sesc conseguisse uma pasagem para depois das 21h por causa dos horários de término em Recife. Então eles conseguiram a empresa aérea NoAR. Não conhecia a empresa e fiquei curioso em saber como seria o voo.
Ao ser atendido no guichê por uma simpática funcionária, relaxei um pouco com o seu bom atendimento. Após conferir meus dados e pesar minha mala, ela perguntou se eu sabia da política de bagagens deles – só permitem 10kg e 1 mala. Eu fiquei perplexo. Com tão pouco peso, seria esse o principal ganha-pao da empresa? Tirei alguns livros da mala e tudo se acertou. Depois perguntei o que eles serviam a bordo. Ela perguntou se era a primeira vez que eu voava NoAr, no que respondi prontamente que sim, ela deu um sorrisinho daqueles: “Nao sabe o que te espera, né?” Ela me informou que não tinham comissário de bordo, nem…banheiro. Vejam vocês… quis entrar em pânico, mas disfarcei bem e retribui o sorriso.
Desci para a área R1 de embarque. No caminho encontrei os colegas de avaliação do prêmio que vieram do Ceará:Piancó, Sabadi e Vanéssia. Contei-lhes do ocorrido e que estariam me encaminhando para minha aventura. Eles riram muito e pediram que eu contasse depois a minha jornada, por isso aqui escrevo.
Quando fomos embarcar, a mesma simpática senhorita nos aguardava (eu e mais 8 passageiros – o que me deixou um pouco mais tranquilo, não seria o único naquela roubada).
Andamos até a aeronave que era, na minha visão de leigo da aeronáutica, um bimotor, com hélices aparentes e tudo. Entrei e ví que só cabiam umas 15 pessoas. Realmente a política de bagagem deles é até generosa.
Sentei e atei o cinto – que era bem parecido com os cintos de banco traseiro de carro. Se fosse cristão, aquele seria o momento para rezar. No entanto fui ler os informativos de bordo, para continuar disfarçando meu nervosismo. Um folheto mostrava instruções de pouso de emergência, onde eu deveria ficar com a cabeça entre os joelhos, mas como? Eu não conseguia nem encaixar meus joelhos entre o acento e o encosto do banco da frente.

Não havia regulagem da poltrona, nem braços, muito menos badeja (pra quê, né?)

As turbinas foram testadas e os pilotos (sim, eram dois, ainda bem, reduz a estatística, vai que um tem parada cardíaca) começaram o procedimento de decolagem. Muito barulho, um certo chacoalhar e eu quase me converti ao cristianismo nessa hora, no entanto imaginei que deus não atenderia um cristão desesperado de ultima instância. Segurei-me na poltrona (no assento) e …e… eu voeei.

Sim, pela primeira vez na vida, tive realmente a sensação de voar. Muito pouco havia entre eu e a paisagem aérea. Vi recife à noite, de cima. Boa Viagem me desejando sorte e surpreendi-me: tive o voo mais prazeroso de todos. Uma viagem tranquila com pequenos balancinhos, mas quase nem sentimos. A maior parte do tempo, devido à altura que estávamos, podíamos ver as cidades e o mar por onde sobrevoávamos. Realmente voeei.

E assim, ao pousar são e salvo, o piloto, gentilmente agradeceu em nome da empresa aérea e disse que eles desejavam continuar superando nossas expectativas em voos futuros. Realmente, superou.  Mais um caso de preconceito desfeito.

Recomendo e não estou ganhando nenhum tostão com isso, mas o prazer de voar já me pagou.

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SER e não TER

Chamem-me do que quiser mas a tentativa é uma só: SER em oposição a TERSubindo as Black mountains - Wales .

Sempre preferi viajar a comprar. Conhecer um outro lugar, (re) conhecer pessoas é sempre mais importante do que um carro na garagem ou nas ruas, não?

Ando melancólico, querendo entender um monte de incompreensão, mas acho que não sou muito corajoso aí corro, fujo, parto.

Toda viagem é um porto seguro.

Preciso me programar para outra caminhada dessas no ano que vem. A subida de todo circuito das “black mountains” no País de Gales, com prêmio de consolação uma cerveja no pub do hostel é mais do que aventureiro é um encontro comigo mesmo e com os meus.

Saudade da mochila e estrada.

Melhor começar a planejar isso. Talvez esse blog seja um primeiro passo para encarar uma nova jornada.

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